segunda-feira, 27 de agosto de 2007


O cenário está inserido no início do Século XX. O período entre Guerras, que é marcado pela consolidação do capitalismo e palco das primeiras rebeliões operárias, se vê de repente numa realidade completamente diferente do que jamais se vira.
As antigas cidades provincianas tão tranqüilas, após a Revolução Industrial rapidamente se transformaram em grandes centros urbanos incrivelmente populosos. Os avanços tecnológicos modificaram o modo das pessoas viverem e pensarem.
Essas mudanças foram materializadas na arquitetura, engenharia, e artes plásticas, e difundidas pelos intelectuais que formaram uma vanguarda chamada FUTURISMO.
O manifesto Futurista
(Marinetti)
“1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião, serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje, a literatura exaltou a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, a bofetada e o sopapo.
4. Declaramos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida com a carroçaria enfeitada por grandes tubos de escape como serpentes de respiração explosiva… um carro tonitruante que parece correr entre a metralha é mais belo do que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos cantar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada, por sua vez, em corrida no circuito da sua órbita.
6. O poeta terá de se prodigar, com ardor, refulgência e prodigalidade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser considerada obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas, para reduzi-las a prostrar-se perante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!… Porque deveremos olhar para detrás das costas se queremos arrombar as misteriosas portas do impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós vivemos já no absoluto, pois já criámos a eterna velocidade.
9. Nós queremos glorificar a guerra, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias por que se morre e o desprezo da mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo e combater o moralismo, o feminismo e todas as vilezas oportunistas ou utilitárias.

11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas; as gulosas estações de caminho-de-ferro engolindo serpentes fumegantes; as fábricas suspensas das nuvens pelas fitas do seu fumo; as pontes que saltam como atletas por sobre a diabólica cutelaria dos rios ensolarados; os aventureiros navios a vapor que farejam o horizonte; as locomotivas de vasto peito, galgando os carris como grandes cavalos de ferro curvados por longos tubos e o deslizante voo dos aviões cujos motores drapejam ao vento como o aplauso de uma multidão entusiástica.”

Este Blog é uma atividade pedagógica proposta pelo professor Joaquim Viana na disciplina de História e Teoria do Urbanismo I da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Salvador (UNIFACS), e objetiva realizar uma abordagem crítica acerca de três filmes com a mesma temática futurista “Metropolis”, “O Caçador de Andróides” e “O Quinto Elemento”, relacionando-os com os planos urbanísticos do arquiteto Antonio Sant’Elia e do Archigram.

É possível fazer uma breve analogia entre as ficções futurísticas vistas em Metropolis (1926), O Caçador de Andróides (1982), e O Quinto Elemento (1997), com a arquitetura visionária do Archigram e Antonio Sant’Elia.
Em Metropolis, a hierarquia social refletida no espaço urbano evidencia elementos da recente Revolução Industrial e transformações sociais vividas a partir do final do final do séc. XIX. A cidade da superfície, onde só as altas classes sociais tinham acesso, expressa o progresso usufruído pela alta burguesia industrial e os avanços tecnológicos que tanto almejavam. Grandes arranha-céus, com passarelas e vias suspensas demonstram a grande influência sofrida pela arquitetura de Antonio Sant’Elia.
A cidade subterrânea das máquinas também é um elemento de referência ao Movimento Futurista. Ela manifesta o culto ao desenvolvimento tecnológico, e aborda de forma debochada a questão das revoltas operárias e injustiças sociais, - o clima de revolução e violência do período entre guerras é também uma característica do Futurismo. A cidade das máquinas também apresenta uma ligação direta à arquitetura lúdica do Archigram. Cidades dominadas pelas máquinas, completamente mecânicas parecem ser diretamente inspiradas pelo filme de Fritz Lang. O cenário, apesar de surreal, antevê uma imagem muito próxima da realidade em que encontramos nas grandes cidades atuais.
Já em O Caçador de Andróides, a temática futurista é abordada num novo contexto, também se trata de um período de guerra (entre homens e andróides), e não apresenta o modelo organizado de cidade visto no filme anterior. Apenas as altas hierarquias sociais detêm a tecnologia e os menos favorecidos habitam em locais caóticos.

A grande presença de arranha-céus e veículos voadores também fazem uma alusão à arquitetura de Antonio Sant’Elia, no entanto, a presença das máquinas não está na configuração do espaço como em Metropolis, mas sim para substituir o trabalho humano, tomando assim o seu lugar.
Enfim, no Quinto Elemento mais uma vez são vistos elementos da arquitetura futurista de Sant’Elia e do Archigram na presença das grandes edificações, negação à natureza refletida no desafio à gravidade, velocidade e movimento, unidos ao caos da cidade excessivamente povoada.

Em contraponto, diferente dos outros filmes, o Quinto Elemento apresenta um modelo de cidade muito mais longe da realidade. Além da presença da alta tecnologia, ela é rigorosamente organizada, tanto no seu aspecto físico, quanto social. Os conflitos se dão não entre homens, mas entre seres de diferentes espécies.

Podemos dizer então, que os filmes estão diretamente ligados e influenciados pela vanguarda futurista, e em especial ao modelo de arquitetura de Antonio Sant’Elia e do Archgram.
Verificamos que em todos os modelos de cidade acima expostos, elas foram programadas para as mudanças em decorrência de uma tendência, - neste caso em específico os avanços tecnológicos, - isso nos leva à reflexão sobre qual será a tendência que as nossas cidades atuais estão sujeitas, e se estamos caminhando na direção certa para a obtenção de cidades sustentáveis e adequadas ás atividades humanas, ou se a transformamos em condicionantes onde ao invés de nos servir, teremos de nos adaptar à mecanismos falidos e inabitáveis.

Referências Bibliográficas:


domingo, 26 de agosto de 2007